terça-feira, 12 de abril de 2011

CANTO PARA MINHA MORTE (musica de Raul Seixas de 1975)

Eu sei que determinada rua que eu já passei 
Não tornará a ouvir o som dos meus passos 
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos 
E que nunca mais eu vou abrir 
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa 
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez 
A morte, surda, caminha ao meu lado 
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar 
Com que rosto ela virá? 
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer? 
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque, 
Na música que eu deixei para compor amanhã? 
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro? 
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada, 
E que está em algum lugar me esperando 
Embora eu ainda não a conheça? 
Vou te encontrar Vestida de cetim 
Pois em qualquer lugar 
Esperas só por mim 
E no teu beijo 
Provar o gosto estranho 
Que eu quero e não desejo 
Mas tenho que encontrar 
Vem Mas demore a chegar 
Eu te detesto e amo 
Morte, morte, morte que talvez 
Seja o segredo desta vida 
Qual será a forma da minha morte 
Uma das tantas coisas que eu nao escolhi na vida
Existem tantas... um acidente de carro 
O coração que se recusa a bater no próximo minuto 
A anestesia mal-aplicada 
A vida mal-vivida 
A ferida mal curada 
A dor já envelhecida 
O câncer já espalhado e ainda escondido 
Ou até, quem sabe, 
O escorregão idiota num dia de sol 
A cabeça no meio-fio Ó morte, tu que és tão forte 
Que matas o gato, o rato e o homem 
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres 
Me buscar 
Que meu corpo seja cremado 
E que minhas cinzas alimentem a erva 
E que a erva alimente outro homem como eu 
Porque eu continuarei neste homem 
Nos meus filhos 
Na palavra rude que eu disse para alguém 
Que não gostava 
E até no uísque que eu não terminei de beber / Aquela noite

Nenhum comentário:

Postar um comentário